Destilando a Miséria Humana.

Um pouco de sujeira, feiúra, imoralidade, amoralidade, sadismo, nonsense e absurdo. Gloriosas infamidades! Uma visão diferente daquilo que não queremos ver ou ouvir falar. Mentes perturbadas destilando o real, pesado real. Tapas na cara, talvez.

Name:
Location: Afghanistan

19.7.08

Memória de uma Vida Privada ou Lágrimas de um Ciclope Cego.

Passei a maior parte do meu tempo sozinho, calado e imóvel. Manifestava-me apenas quando solicitado era. Cumpria sorridente meu dever, sempre em baixo, quieto, ouvindo seus trabalhos. Minha função era abocanhar o rosto do Ciclope, amparar suas lágrimas e saliva e, em vigoroso petardo, engolir suas mágoas.

Todos os dias, encarei as graves faces do Ciclope. Entre suas bochechas fartas, sua boca carnuda, em triste, mas porém belo sorriso, me lançava torrentes de cuspe quente e amarelo. De sua enigmática órbita vazada, entre pálpebras gravemente contraídas e desprovidas de cílios, brotavam grossas lágrimas que caíam sobre mim. Com satisfação, eu engolia toda a sua miséria. O amava e sempre o acolhi. Após secar-se, ele partia e, despedindo-se, lançava-me breves piscadas.